O
historiador britânico Eric Hobsbawm posa durante a primeira edição da
Flip, em 2003; ele foi considerado a estrela daquela edição (Foto:
Divulgação)
O historiador britânico Eric Hobsbawm morreu de pneumonia nesta segunda-feira (1º) aos 95 anos no hospital Royal Free de Londres, informou sua família.
O intelectual marxista é considerado um dos maiores historiadores do
século XX e escreveu "A era das revoluções", "A era do capital", "A era
dos impérios", "Era dos extremos", entre outras obras. Ele também era um
entusiasta e crítico do jazz, escrevendo resenhas para jornais sobre o
gênero musical e publicando o livro "História social do jazz".
Sua filha, Julia Hobsbawm, disse que "Ele morreu de pneumonia nas
primeiras horas da manhã em Londres". "Ele fará falta não apenas para
sua esposa há 50 anos, Marlene, e seus três filhos, sete netos e um
bisneto, mas também por seus milhares de leitores e estudantes ao redor
do mundo", disse.
'Muito comovida pela total gentileza e pelas
condolências de amigos e desconhecidos hoje
pelo meu amável e incomparável pai. Muito
obrigada', escreveu a filha de Hobsbawm, Julia
(Foto: Reprodução)
"Até o fim, ele estava se esforçando ao máximo, ele estava se
atualizando, havia uma pilha de jornais em sua cama", completou a filha.
Na manhã desta segunda-feira, Julia escreveu em seu perfil no Twitter
que se sentia "comovida" pela "gentileza e pelas condolências de amigos e
desconhecidos hoje pelo meu amável e incomparável pai" (leia o tuíte, em inglês).
Trajetória
Eric John Ernest Hobsbawm nasceu de uma família judia em Alexandria, Egito, em 9 de junho de 1917. Seu pai era britânico, descendente de artesãos da Polônia e Rússia, e a família de sua mãe era da classe média austríaca.
Eric John Ernest Hobsbawm nasceu de uma família judia em Alexandria, Egito, em 9 de junho de 1917. Seu pai era britânico, descendente de artesãos da Polônia e Rússia, e a família de sua mãe era da classe média austríaca.
Hobsbawn cresceu em Viena, Áustria, e em Berlim, Alemanha.
Ele aderiu ao Partido Comunista aos 14 anos, após a morte precoce de
seus pais. Na ocasião, ele foi morar com seu tio. Na escola, ele
informou o diretor que ele era comunista e argumentou que o país
precisava de uma revolução.
"Ele me fez umas perguntas e disse 'Você claramente não faz ideia do
que está falando. Faça o favor de ir à biblioteca e veja o que consegue
descobrir'", disse em uma entrevista à BBC em 2012. "E então eu descobri
o Manifesto Comunista [de Karl Marx] e foi isso", relatou, indicando o
começo de sua formação marxista.
Em 1933, quando Hitler começava a subir no poder na Alemanha, Hobsbawm
foi para Londres, Inglaterra, onde obteve cidadania britânica.
O historiador se filiou ao Partido Comunista da Inglaterra em 1936 e
continuou membro da legenda mesmo após o ataque das forças soviéticas à
Hungria em 1956 e as reformas liberais de Praga em 1968, embora tenha
criticado os dois eventos. O ex-líder do Partido Neil Kinnock chegou a
chamar Hobsbawm de "meu marxista predileto"
Anos depois ele disse que "nunca havia tentado diminuir as coisas
terríveis que haviam acontecido na Rússia", mas que acreditava que no
início do projeto comunista um novo mundo estava nascendo.
Durante a II Guerra Mundial, Hobsbawm foi alocado a uma unidade de
engenharia que a presentou a ele, pela primeira vez, a classe
proletária. "Eu não sabia muito sobre a classe proletária britânica,
apesar de ser comunista. Mas, vivendo e trabalhando com eles, pensei que
eram boas pessoas", disse à BBC em 1995.
O historiador aprovou neles a "solidariedade, e um sentimento muito
forte de classe, um sentimento de pertencer junto, de não querer que
ninguém os derrubasse".
Hobsbawm afirmou que ele tinha vivido "no século mais extraordinário e terrível da história humana".
Ele veio ao Brasil em 2003 participar da primeira edição da Festa
Literária Internacional de Paraty (Flip), evento do qual foi estrela.
Hobsbawm afirmou que ele tinha vivido "no século mais extraordinário e
terrível da história humana" (Foto: AFP/©Effigie/Leemage)
Vida acadêmica
Hobsbawm estudou no King's College de Londres e começou a dar aula na Universidade de Birkbeck em 1947, mais tarde tornando-se reitor da instituição. Ele também passou temporadas como professor convidado nos Estados Unidos e lecionou na Universidade de Stanford, no Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) e na Universidade de Cornel.
Hobsbawm estudou no King's College de Londres e começou a dar aula na Universidade de Birkbeck em 1947, mais tarde tornando-se reitor da instituição. Ele também passou temporadas como professor convidado nos Estados Unidos e lecionou na Universidade de Stanford, no Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) e na Universidade de Cornel.
Em 1998, ele recebeu o título de Companhia de Honra. O prêmio,
raramente concedido a historiadores, o colocou ao lado de ilustres como
Stephen Hawking, Doris Lessing e Sir Ian McKellan.
Seu colega historiador A.J.P. Taylor, morto em 1990, disse que o
trabalho de Hobsbawm se destacava pelas explicações precisas dos
acontecimentos pelo interesse em pessoas comuns.
"A maior parte dos historiadores, por uma espécie de mal da profissão,
se interessa somente pelas classes mais altas e pressupõem que eles
mesmos fariam parte destes privilegiados se tivessem vivido um século ou
dois atrás - uma possibilidade muito remota", escreveu Taylor. "A
lealdade do Sr. Hobsbawm está firmemente do outro lado das barricadas",
disse.
Eric Hobsbawm durante uma feira do livro em
Leipzig, em 1999 (Foto: Eckehard Schulz/AP)
Leipzig, em 1999 (Foto: Eckehard Schulz/AP)
ObrasO primeiro livro de Hobsbawm, "Rebeldes
primitivos", publicado em 1959, é um estudo dos que ele chamava de
"agitadores sociais pré-políticos", incluindo ligas de camponeses
sicilianos e gangues e bandidos metropolitanos, um exemplo de seu
interesse pela história das organizações da classe trabalhadora.
No mesmo ano, ele escreveu uma obra sobre jazz e começou a colaborar
como crítico para a revista "New Statesman" usando o pseudônimo Francis
Newton, em homenagem ao trompetista comunista de Billie Holiday.
Em 1962, ele publicou "Era da revolução", primeiro de três volumes
sobre o que chamou de "o longo século XIX", cobrindo o período entre
1789, ano da Revolução Francesa, e 1914, começo da I Guerra Mundial. Os
seguintes foram "Era do capital" (1975) e "Era dos impérios" (1987).
O quarto livro da sequência, "Era dos extremos" (1994), retratou a
história até 1991, o fim da União Soviética, foi traduzido para quase 40
línguas e recebeu muitos prêmios internacionais.
Suas memórias, publicadas quando tinha 85 anos, elencaram os momentos
cruciais na história europeia moderna nos quais ele viveu e foram
best-seller.
Seu último livro é "Como mudar o mundo", de 2011, e é um compilado de
textos escritos desde a década de 1960 sobre Karl Marx e o marxismo.
De acordo com o jornal britânico "The Guardian", ele tem um livro em revisão a ser publicado em 2013.
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