Em seu discurso, presidente João Goulart expressava publicamente seu compromisso com as reformas de base
Na próxima quinta-feira, dia 13 de 
março, completa-se 50 anos do comício da Central do Brasil, em 1964, 
quando o então presidente do Brasil, João Goulart (Jango), discursou na 
presença de milhares de pessoas.
Nesta data e no mesmo local, centrais 
sindicais, entre elas a CUT, movimentos sociais, partidos políticos, vão
 realizar um grande ato com o mote ‘Lembrar é Resistir’.
Para convocação do evento as entidades 
colaram 10 mil cartazes em toda grande Rio e em algumas cidades com mais
 de 15 mil habitantes. “Nossa perspectiva é de um grande ato que terá a 
presença do filho de João Goulart (João Vicente) e pessoas históricas 
que estiveram presentes no comício de 64’, informou Indalécio Wanderley 
Silva, secretário de Organização e Política Sindical da CUT-RJ.
Compromisso com as reformas de base - Em
 seu discurso, Jango tomava uma posição pró-trabalhador, pró-Brasil, 
expressando publicamente seu compromisso com as chamadas reformas de 
base (agrária, educacional, fiscal, bancária e eleitoral) e de 
encaminhar ao Congresso Nacional tais projetos, na construção de uma 
nação mais justa, soberana e democrática.
Na ocasião, João Goulart havia anunciado
 também a assinatura de um decreto pela estatização das refinarias de 
petróleo e outro com o objetivo de desapropriar terras às margens de 
ferrovias e rodovias federais.
“O povo quer que se amplie a 
democracia e que se ponha fim aos privilégios de uma minoria; que a 
propriedade da terra seja acessível a todos; [...] que se impeça a 
intervenção do poder econômico nos pleitos eleitorais”. Para Jango, tal comício vencia uma campanha de terror ideológico e sabotagem.“Chegou-se
 a proclamar, até, que esta concentração seria um ato atentatório ao 
regime democrático, como se no Brasil a reação ainda fosse a dona da 
democracia, e a proprietária das praças e das ruas. Desgraçada a 
democracia se tiver que ser defendida por tais democratas. Democracia
 para esses democratas não é o regime da liberdade de reunião para o 
povo: o que eles querem é uma democracia de povo emudecido, amordaçado 
nos seus anseios e sufocado nas suas reivindicações A democracia que 
eles desejam impingir-nos é a democracia antipovo, do anti-sindicato, da
 anti-reforma, ou seja, aquela que melhor atende aos interesses dos 
grupos a que eles servem ou representam [...]”
Expedito Solaney, secretário nacional de
 Políticas Sociais da CUT, recorda que o País vivia um processo muito 
complicado de conspiração. “O governo não conseguiu renegociar sua 
dívida com o FMI (Fundo Monetário Internacional). Apesar das 
dificuldades o presidente Goulart teve uma posição muito firme de romper
 com as instituições financeiras, com o governo norte-americano”, 
contextualizou.
O Comício da Central do Brasil acirrou 
ainda mais os ânimos e a campanha de setores conservadores em 
contraposição ao governo. As reformas de base que permitiriam melhor 
distribuição da riqueza e de direitos foram interpeladas pelo golpe 
militar em 1º de abril de 1964, que cerceou as liberdades e perseguiu 
violentamente seus opositores.
Mais direito e mais democracia -
 o ato também será uma oportunidade de aprofundar a luta em favor das 
reivindicações da classe trabalhadora, contra os retrocessos 
democráticos e a criminalização dos movimentos sociais.
Entre as bandeiras de luta destaque para
 a reforma política, agrária, urbana, democratização da comunicação, 
além da agenda dos movimentos sindical e social do Rio de Janeiro como a
 prioridade para o transporte público, não a privatização da água e da 
Cedae (Companhia Estadual de Águas e Esgotos), mais investimentos para 
universalizar o saneamento no Estado, fim da privatização na saúde e na 
educação, contra a criminalização dos movimentos sociais e da pobreza e 
pela desmilitarização da Polícia.
CUT na luta - A CUT 
Nacional constituiu no ano passado sua própria Comissão Nacional 
‘Memória, Verdade e Justiça’ e está trabalhando na coleta de informações
 a partir dos 11 pontos que orientam o trabalho do GT13 ‘Repressão aos 
Trabalhadores e ao Movimento Sindical’ no âmbito da CNV (Comissão 
Nacional da Verdade).
Solaney informou que em abril será 
realizada uma reunião da Comissão da Central onde será apresentado um 
primeiro balanço dos documentos e informações coletadas e o planejamento
 das próximas atividades.
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